segunda-feira, 11 de julho de 2011

O legado da máquina de lavar roupas


Reprimida e ofuscada por morais pré-estabelecidas, a mulher custou para obter notoriedade e adquirir espaço igualitário na sociedade. Centenas de ditas bruxas arderam em chamas acompanhadas por um conhecimento perdido; prostitutas lançaram sua imagem ao relento ao oferecer serviços “impuros”, fora do padrão contemporâneo.
A faísca da liberdade fora acesa embalada pela Revolução Industrial que possibilitou o “êxodo residencial”. O símbolo feminino conquistou oportunidade de trabalho e influência socioeconômica. Homens e mulheres unidos enfrentaram períodos de repressão militar, nas palavras de Chico Buarque de Holanda: “Mesmo calado o peito resta a cuca”, complementadas por sábias canções de Elis Regina – “o bêbado e o equilibrista” ilustra o quadro – e diversas “flores” que abandonaram o posto de frágeis  para tornarem-se mulheres revolucionárias, de fibra.
Conquistas sob conquistas e no ano de dois mil e dez o Brasil elege a sua primeira presidenta, não obstante, proferir que o Brasil está diante de uma “nova época” pelo simples fato de Dilma Rousseff ser mulher, erroneamente caracteriza um preconceito. A opção sexual e/ou gênero não interfere na integridade, apesar das divergências características, vota-se em competência – não em credo, cor, gênero e beleza exterior -.
As “flores” de fibra perderam espaço para as “frutas”. Melancia, melão, pêra; uma verdureira na qual a auto-intitulação por atributos físicos vulgarizou  a essência feminina. A luta pela homogeneidade adquirida é lançada às traças ao constatar que a mulher é apenas um símbolo sexual, apenas uma “garota de Ipanema”.
O Brasil de “globelezas” e mulheres tenazes, prostitutas e bruxas, frutas e flores, idealiza a imagem de um símbolo feminino a rebolar diante de uma passarela do samba – sorrindo a um mundo repleto de injustiças e valores invertidos -. A maquina de lavar roupas transformou faísca em chama; há aqueles que se queimam, outros que valorizam seu real objetivo e conseqüente benefício.  

terça-feira, 21 de junho de 2011

Desparafusados


Espreguiçar-se lentamente ao nascer do sol, pestanejar alguns segundos a mais, deixar a casa cedo para na padaria comprar seu jornal ou furtar uma lustrosa bergamota na verdureira da esquina e seguir a passos lentos para o trabalho. O início de uma manhã fornece um vasto conjunto de possibilidades para ações corriqueiras, todavia não a determinam. São, os homens, autônomos -capazes de efetuar escolhas racionais e livres- cabe a cada qual a exposição de uma justificativa razoável para determinadas ações.
Desprovida de manual de instruções, a sociedade não possui uma concepção de finalidade previamente estabelecida. De acordo com o filósofo Jean Paul Sartre “o homem existe e pronto”, não há uma essência que o precede, ele determina seu futuro e deve arcar com as conseqüências de suas escolhas. Existindo, o homem é livre e constrói seu próprio caminho,sua essência e senso crítico.
            Liberdade, esta, munida de limites que não a anulam, pois – em absoluto – a autonomia total somente existiria se houvesse apenas um habitante no universo e suas escolhas fossem soberanas.  A partir da primeira escolha, todas as outras derivam, não obstante, não deixam de caracterizarem-se como condutas de liberdade.
            O auxílio para o julgamento das atitudes é chamado de ética, que não pune os sujeitos inadimplentes, trata-se apenas de princípios da ação humana. Não basta os homens lutarem pela liberdade sem saber que estão fazendo. Não basta a existência de uma democracia com voto obrigatório vigente e cidadãos alienados do real conceito de liberdade e desprovidos de “parafusos”. A felicidade, de carona com a liberdade, não se constitui no gozo de prazeres momentâneos.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Respostas: dúvidas ainda maiores


            Questionamentos, verdades absolutas e idealizações - devaneios à parte que foram produzidos pela mente humana e possuem grande potencial destrutivo -. A preocupação quanto à produção de conhecimento incide na ausência de cautela. Os cientistas, um tanto quanto egoístas, acabam por não checar as duas facetas da moeda - fator diferencial entre a glória e o fracasso -.
            Nos embalos da revolução industrial, o homem, embasado na filosofia baconiana, domina a natureza em prol do auto-comodismo (ego dominante). Deste modo, trabalha para desenvolver um manual de instruções dos recursos naturais munido de objetivos certeiros: saciar seus luxos e ostentar superioridade. Superioridade, pois, idealizada.
            A aparente sutil diferença entre ideia e impressão (sentido), torna-se ponto chave no desenrolar de uma cadeia científica destrutiva ou construtiva, isto é, tal divergência relatada por David Hume separa a teoria idealizada da prática vivida. Apesar de a tecnologia ser a união de técnica (prática) com teoria, possui uma utilidade teórica, criada por um determinado indíviduo e, certamente, teoria e prática nem sempre caminham de mãos atadas.
            Durante a insaciável busca ao bem estar, a ciência fez uso da energia nuclear, a qual converte o calor emitido pela reação em energia elétrica. Pura teoria: o caráter destrutivo é evidente com o aparecimento das bombas atômicas. Por outro lado, o estudo de células embrionárias constata a função construtiva da ciência.
            A inocência - ou descaso das pesquisas científicas - enaltece a ânsia pelo resultado imediato. O caminho e o destino são irrelevantes quando a sociedade exige soluções e, os prisioneiros que viram a luz fora da caverna de Platão, não sabem o que fazer com ela.  

segunda-feira, 28 de março de 2011

O enterro da verdade absoluta

     "A vida não dá e nem empresta, não se comove e nem se apieda. Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós lhe oferecemos”. Palavras proferidas pelo exímio cientista Albert Einstein colocam à prova conceitos a respeito da humanidade e seus respectivos conflitos ideológicos geração a geração. O potencial humano no desenvolvimento de tecnologias acarreta divergência quanto a real evolução ética.
     O desejo de alcançar o topo é inato e selvagem, todavia o fator que difere sociedades é unânime: o vício, o amor à velocidade. Parte do momento em que sugar, extrair, parasitar, enaltecer o comodismo sem nada retribuir finda no corrompimento dos alicerces da ética, o que torna impossível o convívio, esse carrega consigo a falta de união e resultados.
     O mercado de trabalho abrange tais conflitos; é uma mistura de gerações com ideais distintos. Cerca de setenta anos atrás surgem os Baby Boomers, uma juventude conhecida pelo culto de sexo, paz e amor com liberdade; atitudes irracionais deixaram o legado da geração sucessora, a aids. Embalados pela falta de estrutura financeira, a remessa X faz do trabalho fonte de realização pessoal, apostando na hierarquia, segurança e competitividade.
     Após anos de estabilidade surgem as gerações Y e Z. Filhas da velocidade e alta tecnologia - provenientes dos anos oitenta e conseguintes - a normalidade compara-se a monotonia. O resultado constatado: impaciência, individualismo e impulsividade. Os representantes desse grupo mostram-se pré-dispostos à ansiedade crônica e efemeridade nas relações sócio/econômicas.
     Os jovens - cheios de informações - tornam-se, entretanto, vazios de conteúdo. Tais deficiências ocorrem ano a ano, extinguindo o conceito de verdade absoluta. O que, de fato, é capaz de acabar com adversidades é a educação e a tolerância. A partir do momento em que os olhos conversarem junto das palavras, o vigor de idéias inovadoras e a sabedoria transformarão a rejeição em aprendizado.